a coragem de dar um tempo em tudo

No mundo dinâmico em que vivemos, nem sempre é possível observar com calma o transbordamento da ansiedade comum ? aquela que a gente sente a respeito da festa de que só vai acontecer sábado ? para a ansiedade que vem em crises. Os sintomas podem ser incapacitantes. Quando Wesley Safadão começa um show afirmando que teve um dia difícil, que teve que tomar remédios fortes para conseguir dormir e poder trabalhar, acende um holofote na rotina de muita gente. Mas a gente só continua (e daí que a mão está formigando um pouquinho, né?).

No sistema cruel em que dependemos de muito trabalho para viver bem, ou simplesmente viver, não dá para parar e olhar para si. Que horas você vai pensar que essa taquicardia não é normal se, ao chegar em casa, tem jantar para fazer, uniforme para lavar, banho para dar, casa para cuidar, cachorro para passear, cama para fazer e já são 23h45 e você não acabou nem a metade? Que rotina é essa em que cada um tem seus horários de demandas sempre urgentes que chegam por WhatsApp, por e-mail, por Instagram e consomem cada espaço pequeno de sua mente com uma angústia de que sempre vem mais? ?Que horas é a minha vez de olhar para mim??, pode ter se perguntado Safadão inúmeras vezes antes que crises de ansiedade fortíssimas fizessem com que ele fosse obrigado a mudar seu ritmo. O corpo manda.

A crise, me diz uma reportagem de Viva Bem, vem da vontade de evitar que algo ruim aconteça. O desejo é prever o futuro para ter o controle da situação. Lendo aqui, parece óbvio que é impossível. Mas vai contar isso para a minha avó, que após ver a casa tomada por uma enchente, passou o resto de sua vida olhando para o céu nos fins de tarde, tentando prever tempestades, tentando subir os móveis ao sinal de tempo fechando no verão. Cada um sabe de seus gatilhos.

Safadão, um homem de sucesso, rico, dono até de um jatinho, não está livre deles. Tem mais liberdade talvez para parar que o pai de família que se afunda em dívidas após um dia longe do trabalho (emprego pelo qual agradece todos os dias). Porém é difícil tirar do artista seu trabalho, que geralmente está profundamente ligado com o que ele é. Quem é Wesley sem o palco, ele deve estar se perguntando. E se é justamente o palco, parte de sua personalidade, que está o afastando de si?

A conversa me lembra um vídeo da ex-influencer Jout Jout, de anos atrás, que determinava que “está todo mundo mal”. Pouco tempo depois, a própria largou a internet, seu ganha-pão, e foi viver uma vida reclusa onde pode não ter o hype do sucesso, mas tem a famosa paz terrível que se fala nas redes sociais. Há décadas, Ana Paula Arósio fez o mesmo e não há notícias de que tenha se arrependido.

Talvez Safadão não possa nem queira se afastar dos shows em definitivo. Nem você poderá dar um basta na carteira de trabalho. Mas que dá para se poupar dos stories do pessoal que finge ter uma vida perfeita, isso dá. Vai ver o influencer que você tanto inveja nem queria estar postando aquilo.

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