Javier Milei: Bolsonaro argentino baixa o tom da maluquice – 12/09/2023 – Vinicius Torres Freire

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Javier Milei venceu as eleições primárias da Argentina, em 13 de agosto. Lidera as pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, em 22 de outubro. Venceria no segundo turno, dizem os números até agora.

Milei parece lunático, tanto quanto o programa de governo que apregoava até vencer as primárias. A economia argentina seria oficialmente dolarizada. O Banco Central seria fechado.

Haveria um “plano motosserra” de redução de tamanho do governo, começando com a sempre demagógica história de redução do número de ministérios. A Argentina sairia do Mercosul. Não entraria nos Brics.

Milei parecia um personagem de videogame ou um bonequinho de ação (“action figure”) de uma revista em quadrinhos de institutos liberais e libertários, como esses do Brasil, mas perturbado e ainda mais caricato.

Desde fins de agosto e em especial em setembro, seus principais porta-vozes e assessores vêm dizendo que “não é bem assim”. Mais do que isso, insinuam estar conversando com macristas (adeptos de Maurício Macri, presidente argentino de dezembro de 2015 a dezembro de 2019).

Nos últimos dias, Macri, teve de dizer que não tem dois candidatos —é da coalizão política de direita de Patricia Bullrich, que ora disputa o segundo lugar nas pesquisas com o peronista-kirchnerista e ministro da economia Sergio Massa).

A direita argentina se acerca de Milei. Macri, queridinho de liberais, quebrou o país de novo ao facilitar outro ciclo de endividamento externo rápido e colossal.

Considere-se o discurso de Diana Mondino, que talvez viesse a ser chanceler de um governo Milei. Mondino integra o conselho de várias empresas argentinas, é de família de banqueiros, professora de finanças em uma universidade privada e amiga ou conhecida do empresariado, que tem aplaudido a conversa “moderada”, por assim dizer, da executiva-economista.

Não haveria dolarização de imediato, o que era óbvio, pois resultaria em colapso espetacular mesmo para os padrões argentinos. “A economia está se dolarizando sozinha” disse Mondino ao se referir à extensa fixação de preços e contratos na moeda americana. Se a economia da Argentina for mais produtiva, flexível e competitiva, nem talvez seria necessário dolarizar. Mas haveria um plebiscito sobre a dolarização (e outro sobre aborto). Note-se que Milei, eleito, não teria maioria no Congresso.

Darío Epstein, um assessor econômico de Milei, diz que não há como dolarizar se não há dólares. A equipe do “libertário” não sabe nem quando vai levantar os vários controles de capitais (entrada e saída de recursos, dólares, do país) ou unificar as tantas taxas de câmbio argentinas.

Seria preciso também arrumar as contas do Banco Central, dizem os assessores do Milei. O BC quase não tem reservas, até por ter muitos passivos. Se é preciso arrumar o BC, tão cedo, ao menos (rir, rir, rir), ele não seria extinto.

Não seria possível cortar o gasto público de modo relevante, de imediato, pois há muito gasto obrigatório, o grosso sendo do INSS argentino (bidu), diz esse pessoal de Milei. Mas prometem “déficit zero”.

O caminho seria o corte de subsídios (a depender da conta, o equivalente a quase 18% do gasto) e contenção de aumento salarial (com a inflação argentina, o arrocho poderia ser rápido). Em tese, haveria revolta, pois muito dinheiro vai para tarifas de serviços públicos. Mas vá lá.

Mercosul? Precisa ser “reanimado” e “reforçado” por meio de novas negociações entre os quatro parceiros e de novos acordos com o mundo.

A direita argentina se mexe e se remexe. Em parte, como fez a brasileira, ao adotar Bolsonaro a partir de fins de 2017.


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