Passada a fase mais ortodoxa, que para muitos fãs é a melhor, o Sepultura de 1993 misturava metal, hardcore e rock industrial com sons brasileiros (fusão que chegaria ao ápice no disco seguinte, o best-seller “Roots”). Cabia aí, então, a acústica “Kaiowas”, um protesto contra a situação dos indígenas dessa etnia que se suicidavam devido à invasão de suas terras pelos homens brancos. Os críticos compararam a música (que incluía percussão e solo de viola) a Led Zeppelin (“Kaiowas” lembra “Friends”, em seu começo) — com a diferença de que, enquanto o Led misturava seu rock com sons asiáticos e africanos, o Sepultura fazia a fusão com o som da sua própria terra.
Meu pai escutava muita música sertaneja, especialmente Tonico & Tinoco e Sérgio Reis, tinha muitos discos. Eu ouvi Tonico & Tinoco antes de “Smoke on the Water” [música do Deep Purple].
Andreas Kisser, em entrevista para Ecoa.
A partir de “Chaos A.D.” quem se interessasse pelo futuro do metal poderia procurar o Sepultura. O disco é considerado por muitos como influência básica no que viria a ser o nu-metal de Korn, Slipknot e cia e também no movimento conhecido como “new wave of american heavy metal”. O próprio Korn teria passado horas ouvindo esse disco, enquanto gravava seu clássico álbum de estreia. No disco dos brasileiras já estavam as afinações graves, as guitarras minimalistas e dissonantes, os vocais falados e as baterias quebradas, que dominariam as paradas mundiais anos depois. Corey Taylor, vocalista do Slipknot, considera “Roots”, do Sepultura, um dos melhores discos de metal da história.
Mas voltemos ao aniversariante do ano. O clima desse álbum é pesado e violento; a trilha sonora de um futuro ciberpunk dominado por megacorporações e fanáticos religiosos (“Amen”). O guitarrista Andreas Kisser deixou de lado, aqui, seu virtuosismo, para tirar novos timbres de sua guitarra uivante, o baixo de Paulo Jr (que gravou suas próprias linhas pela primeira vez nesse disco) vinha muito grave, como um terremoto, cheio de efeitos, casando com o bumbo duplo furioso de Igor Cavalera, um gigante nas baquetas, que injetava swing no hardcore mais agressivo e desacelerava os tempos em faixas mais cadenciadas, como “Nomad” e “Propaganda”, ajudando a moldar o que seria o groove metal defendido por bandas como Pantera e Machine Head naquela mesma década. Para termos uma noção de quão grande estava o Sepultura nesse período, vale lembrar que Igor chegou a ser convidado para assumir as baquetas de quem… Guns N’ Roses! E mandou um “Lógico que não!” para Axl e cia.

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