Vem cá, você furaria uma fila de transplante de órgãos? Precisa ter visto vilões de ficção científica demais para acreditar que seja natural “roubar” o lugar de alguém que está na frente porque tem mais urgência no procedimento. Caso isso fosse possível, quero crer que ninguém que conheço naturalizaria uma atitude tão vil. Se você acha que o outro faria algo assim porque tem dinheiro, parece que você está dizendo que faria se pudesse. Ninguém pode fazer isso, o sistema é idôneo. Mas cogitar já é problemático.
O barulho na internet desse domingo (27) e segunda (28) é a contraposição do chorume dos comentários de rede social versus a tentativa válida de alguns influencers da área de saúde de explicar como funciona um transplante de coração. Pois o fato é que a instituição pública Sistema Único de Saúde não se corrompe quando o assunto é transplantar órgãos. O sucesso depende apenas de ter um órgão compatível ao do paciente que é o próximo na lista de receptores.
E, para isso acontecer com rapidez, há a necessidade de variedade de doadores. É daí a campanha que a família Silva fez nas redes sociais desde que tudo aconteceu: o tipo de atitude que muda a história de um país. Contando histórias felizes de tantas pessoas que vivem com mais qualidade de vida após serem transplantados, a mulher do apresentador, Luciana Cardoso, ajuda indiretamente a salvar mais vidas. Quanto mais gente entender que é importante doar órgãos de familiares no momento de sua morte, mais gente seria contemplada, em finais possivelmente felizes, como parece se desenhar o da família de Fausto.
Não é bonito que a tristeza de uma morte repentina possa trazer esperança para um monte de gente em fígados, rins, olhos e outras partes do corpo que voltarão a pulsar, saudáveis, em outras pessoas? Eu acho lindíssimo.
Mas a gente vive em um país acostumado de tal maneira com a maracutaia que as pessoas custam a crer na obediência às mesmas leis e regras de qualquer mortal. Na internet, desde o início da divulgação do estado de saúde de Fausto (tratado de maneira discreta, porém transparente, pela família), pessoas já começaram a falar da situação financeira como o ponto de partida para o provável sucesso do desenrolar de seu estado de saúde. Um absurdo.
Imagina uma família que vive uma internação de um parente. Que, como eu e você, se reveza dias e noites como acompanhante num quarto de hospital. Que espera pelo imprevisível prazo de chegada de um coração que atende diversos requisitos, como tipo sanguíneo e dimensões. E que termina com alívio em uma esperada cirurgia — 70% das pessoas na espera são, como Fausto Silva, operados em menos de 30 dias. Por que alguém questionaria a honestidade desse processo?
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