Vacinas incineradas: dinheiro poderia ter sido usado em pesquisas nacionais – 31/07/2023

Recentemente foi publicado, no jornal Metrópoles, que o Ministério da Saúde incinerou mais de 36 milhões de vacinas herdadas da gestão anterior e que estavam vencidas. Isso é um prejuízo bilionário por falta de planejamento e gestão capacitada. E quem trabalha na pesquisa pode imaginar o quanto esse valor financeiro incinerado poderia ajudar a desenvolver nossas próprias vacinas. A maioria das vacinas descartadas era contra a covid-19, aproximadamente 2/3, mas também tinham diversas outras vacinas, como as contra febre amarela, raiva, BCG etc.

Bom, mas como calcular o valor dessas vacinas incineradas?

Uma estratégia simples é utilizar o valor estimado pela OMS quando criou o consórcio mundial para garantir vacinas por preços acessíveis e distribuí-las para países que tinha pouco acesso aos imunizantes. O valor estimado pela OMS seria de US$ 10 por dose, ou seja, aproximadamente R$ 50. Claro que esse é um valor subestimado, pois o preço da vacina da Pfizer, por exemplo, girou em torno de US$ 18 a US$ 23, ou seja, esse valor de US$ 10 por dose pode ser a metade do que realmente foi pago para adquirir a maior parte das vacinas que foram incineradas.

Nós estamos falando de muito investimento. Não pensem que vacinas custam pouco, para olharmos para uma situação dessas de incineração de vacinas e acharmos algo trivial. Por exemplo, até o fim de 2023, o Ministério da Saúde desembolsou mais de R$ 38 bilhões para comprar as vacinas contra a covid-19. E com essas mais de 36 milhões de doses incineradas, o Brasil deve ter queimado entre 1,8 e 3,6 bilhões de reais. Não pensem que acaba aí, pois manter essas vacinas até que expirasse suas validades custa muito, mas muito caro.

Eu quero aproveitar e fazer um adendo de outros gastos absurdos e inutilizados, como aqueles utilizados para comprar e manter os kits PCR para diagnóstico da covid-19 que também expiraram. Mais uma vez, o número de kits desperdiçados passa de milhão, que multiplicado pelo valor de cada kit, eleva ainda mais o rombo de mais milhões nos cofres públicos devido à falta de competência para gerir o patrimônio financeiro público.

Para não alongar ainda mais, vou voltar para a questão das vacinas, pois precisamos perguntar por que um país como o Brasil, que tem uma linda história científica, não produziu suas próprias vacinas enquanto queimamos bilhões com vacinas vencidas?

Dessa forma, eu gostaria de dialogar sobre os custos para desenvolver vacinas, para vocês perceberem o quanto esses gastos desperdiçados poderiam fomentar a criação de vacinas brasileiras.

É importante ressaltar que para desenvolver vacinas, o custo varia muito, pois há diversos custos relacionados ao tipo de tecnologia e produção aplicadas, o número de voluntários nos estudos clínicos, o cronograma de pesquisa etc.

Além disso, obter uma amostragem suficiente de participantes expostos ao causador da doença e avaliar a capacidade protetora da vacina não segue o padrão das vacinas desenvolvidas contra a covid-19, pois o mundo virou um grande “laboratório”, com os seres humanos extremamente expostos ao vírus causador da covid-19. Dessa forma, vou trazer umas informações de um trabalho muito bom que faz uma estimativa de valores utilizados para desenvolver vacinas. Esse trabalho que faço referência foi publicado na revista científica The Lancet, umas das mais conceituadas do planeta.

Nesse trabalho, é feita uma ampla revisão da literatura científica, que considera os diversos fatores vinculados ao desenvolvimento vacinal, que vai desde os estudos pré-clínicos (que não envolvem seres humanos como voluntários do estudo) até os estudos clínicos. Nisso, entram os cronogramas de pesquisa e desenvolvimento, custos indiretos, até o histórico de licenciamento de desenvolvedores de vacinas. Eles consideraram os custos no desenvolvimento de vacinas contra 11 doenças infecciosas, desde os custos nos ensaios pré-clínicos até o final da fase clínica 2, que gira em torno de US$ 31 a 68 milhões. A partir desse momento, várias questões são consideradas, inclusive a probabilidade de sucesso, que inclui o custo cumulativo de vacinas candidatas que falharam.

Considerando que o financiamento fosse disponibilizado, ao invés de queimado através da incineração de produtos vencidos, a obtenção de pelo menos uma vacina para cada uma das 11 doenças infecciosas epidêmicas, proposta nesse estudo, custaria na faixa de 4 bilhões. Como falei, custo que envolve diversos fatores, inclusive as falhas das diversas vacinas que foram custeadas.

Compartilho esses valores para termos uma ideia do quanto de vacinas poderíamos produzir com tanto dinheiro desperdiçado.

Mas esse valor estimado para desenvolver as vacinas poderia ter uma queda drástica, quando há um trabalho de inteligência para investir. Não é apenas liberar dinheiro, pois tem vários fatores envolvidos.

Querem um exemplo prático?

É cada vez mais necessário investir nas plataformas vacinais corretas, para isso precisa ter inteligência para identificar os projetos que realmente são factíveis, pois tem ocorrido historicamente a promessa de vacinas por pesquisadores “renomados”, mas que no final só gera aquisição de uma enorme quantidade de investimento e pouco resultado para a sociedade.

Junto a isso, há o resultado pessoal desses pesquisadores, pois quando se consegue investimentos em projetos, o pesquisador cresce muito no meio científico por “ter dinheiro” para pesquisa, e utiliza disso para buscar mentes que realmente produzem, sendo que no final quem leva os créditos não são aqueles que fizeram algo, produziram conhecimento, mas sim os que parasitaram o dinheiro público e as mentes cientificamente produtivas.

Se pelo menos houvesse um resultado para a sociedade, a gente poderia ficar chateado, mas compreender que houve um retorno social. Mas pouca inteligência científica e muita ânsia para usurpar a inteligência e projetos alheios culminam em muitos gastos e poucos produtos. Para completar e atrapalhar o desenvolvimento científico no Brasil, jovens pesquisadores têm que ser cuidados para não serem perseguidos e atrapalhados nas carreiras científicas, ou terão que fazer sucesso em outro país, como tem ocorrido bastante.

Isso é um simples exemplo de como a ciência brasileira também é feita. O que gera esperança é que existem muitos pesquisadores gigantes e honestos que fazem ciência com tanto afinco e amor que são luzes para iluminar o caminho de tantos garotos e garotas brilhantes.

Espero que assim seja também na política, que apesar de ter uns seres desprezíveis, que os iluminados nos guiem para uma estrada de luz e esperança.

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